"Projeto inovador envolve uma temática mais que atual (NFT) e conta com a participação de grandes artistas nacionais unidos por uma causa maior"
Em 2021, participei do Climathon YCL - programa promovido pela UNLEASH e Youth Climate com o objetivo principal de mobilizar e capacitar os jovens da região amazônica para liderar soluções que possam enfrentar os desafios bioeconômicos locais, promover a justiça e a conservação das florestas. Durante o evento, uma das integrantes me chamou muito a atenção pela inteligência, desenvoltura, espírito empreendedor e principalmente pela generosidade demonstrada por meio da vontade e disponibilidade em ajudar todos os outros participantes do evento. Mas quem é essa integrante? Seu nome é Iara Vicente, uma acreana com um currículo invejável que inclui formações no exterior (MPA ESP - Columbia University) e que atualmente está a frente da Nossa Terra Firme (empresa de consultoria estratégica socioambiental especializada em growth hacking, implementação e mensuração de projetos ESG). Recentemente tive a honra de receber um convite dela para participar de seu mais novo projeto, o NFTs de Impacto (uma parceria com a Tropix e o Mercado Bitcoin), projeto inovador e impactante que envolve uma temática mais que atual (NFT) e conta com a participação de grandes artistas nacionais unidos por uma causa maior. E para entender um pouco mais sobre esse projeto batemos um papo que você confere abaixo:
Como surgiu o “NFTs de Impacto”?
O NFTs de Impacto é um projeto que surge no setor ESG do Mercado Bitcoin. É uma iniciativa que busca exemplificar o potencial de impacto social da nova economia das artes e criptoativos em geral, dialogando com as necessidades das iniciativas de impacto e promovendo a diversidade de artistas no ambiente cripto. O projeto conta com a parceria da Tropix.io na montagem (autenticação) dos NFTs e assessoria da consultoria estratégica Nossa Terra Firme. A partir desta colaboração, desenvolvemos o piloto do que se tornou o projeto NFTs de Impacto.
O que seria um NFT de impacto?
Para entendermos o que são NFTs, primeiro é preciso compreender o conceito de fungível. Fungível é tudo aquilo que você pode substituir por uma mesma unidade deste ativo. Por exemplo, uma nota de R$ 10, independentemente do ano em que foi lançada, vale R$ 10 e você consegue trocar uma nota por outra. Isso é um ativo fungível. NFT´s são tokens não fungíveis (non fungible tokens, na sigla em inglês), que é o oposto ao exemplo que demos sobre a nota de R$ 10. É um ativo que é único, em tese não divisível. Você não troca uma obra de arte por outra, apesar das duas serem a mesma coisa. Isso, no universo digital, ganha uma característica especial. Chamamos de NFT´s de Impacto pois, parte do dinheiro que será arrecadado por meio do leilão das obras, será revertido em benefício de causas socioambientais urgentes no Brasil. Nesse projeto, estamos falando da causa do Projeto de Gestão e Vigilância Territorial do Povo Indígena Paiter Suruí de Rondônia.
Que estratégias o projeto utiliza para atrair compradores nos leilões?
A ideia foi unir a causa indígena aos NFTs que estão em um momento de bastante destaque. Dessa forma, a pessoa pode unir a possibilidade de se engajar em uma causa socioambiental com o prazer de fazer sua própria coleção.
O projeto conta com a participação de grandes e diversos artistas. Como foi convencê-los a participar?
Foi um processo muito interessante e enriquecedor. Primeiro é preciso dizer o quão gratos somos à generosidade dos grandes artistas e galerias que apoiaram nossa iniciativa. Buscamos promover um ecossistema artístico diverso através desta iniciativa filantrópica, e graças ao interesse destes artistas em colaborar com o Povo Paiter Suruí na proteção de suas florestas. Segundo, vale mencionar que muitos artistas nos ajudaram a amadurecer este projeto através de questionamentos pertinentes sobre a sustentabilidade de nossas NFTs, aspectos sociais e de acesso relativos ao universo cripto. Isto foi muito importante para o amadurecimento do projeto, inclusive para fortalecermos a noção de que certos aspectos desta proposta – a mitigação de emissões de carbono, a adoção de tecnologias menos danosas ao meio ambiente e a promoção da diversidade no universo dos criptoativos – devem andar juntos com a promoção do impacto socioambiental positivo. Nós recomendamos fortemente que a comunidade NFTs Brasileira e mundial conheça melhor estes artistas e iniciativas, que são ao mesmo tempo tão engajados e com propostas artísticas tão fortes e únicas.
Quais as consequências do projeto para o povo Suruí?
O projeto NFTs de Impacto apoiará o povo Paiter Suruí em uma iniciativa corajosa que a comunidade já mantém há vários anos: o monitoramento e gestão independente de seus territórios florestais. O povo Paiter Suruí salvaguarda em seu território florestas sob alta pressão do desmatamento ilegal, grilagem e invasões, e para protegê-las desenvolveram um sistema de gestão territorial onde monitores ambientais identificam ameaças ao território, composto de 30 aldeias.
Nos tempos de seca, as atividades incluem expedições de vigilância nos lugares mais ameaçados. As doações arrecadadas com o leilão vão apoiá-los com os gastos de manutenção do Programa, através da entidade beneficiária, a Associação Metareilá do Povo Indígena Paiter Suruí. Isto é especialmente relevante no contexto de crise climática onde a preservação da floresta amazônica é indispensável para o equilíbrio climático mundial.
Algumas pessoas, infelizmente, têm uma visão dos indígenas como um povo primitivo. Como está sendo para o povo Suruí participar de um projeto inovador e tecnológico como esse?
O povo Paiter Suruí, na verdade, é pioneiro há décadas em utilizar a tecnologia ocidental para proteção de seus territórios florestais e promoção do bem-viver dentro de seu território, sua cultura e suas tradições. O povo Paiter Suruí já teve parcerias com a Google para realização de monitoramento territorial via satélite, foi pioneiro na construção de um projeto indígena de créditos de carbono e até mesmo utilizou urnas eletrônicas para escolher a liderança de seu território, o Cacique Almir Suruí. É um povo que tem um planejamento de 50 anos, um fundo coletivo de manutenção territorial, uma associação. É um grande exemplo de que os povos indígenas brasileiros, em seu longo histórico de resistência e preservação de sua identidade cultural, tem interagido com a tecnologia não-indígena também como uma ferramenta de mobilização e luta por direitos. As NFTs de Impacto são uma pequena parte desta jornada, e esperamos que se torne uma ferramenta cada vez mais comuns para aqueles lutando pela preservação da vida e pelos direitos humanos em nosso país.
Atualmente discute-se muito a temática envolvendo o NFT. Como você imagina o futuro desse tipo de arte?
Em 2021, esse mercado se popularizou à medida que as vendas de obras de arte em forma de NFT viraram manchetes ao redor do mundo. Famosos como Neymar já aderiram e compraram seus NFTs. Acreditamos que é um mercado muito promissor, tanto para o mundo das artes e agora também em benefício das causas socioambientais.
Uma dúvida comum em muitas pessoas é referente ao modo de armazenamento e usabilidade do NFT. Onde ele fica armazenado e qual sua principal usabilidade?
As NFTs são cripto ativos como outro qualquer. Portanto a armazenagem ou custódia é feita ou por plataformas de negociação como o Mercado Bitcoin ou própria, onde o detentor do ativo é responsável pela sua guarda. Vale observar aqui que fazer custódia por conta própria, apesar de não ser muito complicado, não é trivial e algum conhecimento e familiaridade com o ecossistema é pré-requisito. Dito isso, cabe ao investidor optar o local de custódia.
A utilidade de uma NFT é bastante variada. Depende muito do que foi tokenizado ou cunhado (termo mais correto) e quais as possíveis interações com determinadas plataformas elas, as NFTs, permitem. No caso de obras de arte, a utilidade está na mesma daquela de uma obra física. Ter a posse daquele ativo, mas de forma digital.
No caso das NFTs de Impacto, além desse prazer de colecionador, a principal utilidade é ajudar uma causa social.
Sabemos que esse é o primeiro projeto do tipo. Existem outros projetos semelhantes nos planos de vocês?
Para o Mercado Bitcoin e Tropix, esse é o primeiro passo de um projeto que vai buscar atrair a atenção e recursos para as causas urgentes do país, como dos povos indígenas e de outras populações minorizadas.
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