Dificuldade de mentoria, escolha de público, conversão de clientes e contratações estão entre os principais tópicos apontados pelos fundadores de startups
Cerca de metade dos empreendedores de startups são fundadores de segunda viagem, revela o relatório Founders Overview, produzido pela holding de venture capital ACE em parceria com BHub e a55. Ao todo, 51,8% dos fundadores responderam que estavam empreendendo pela segunda vez, sendo que 39% deles não venderam suas primeiras startups e 12,8% venderam o negócio inicial. A pesquisa entrevistou mais de 200 empreendedores com faturamento anual partindo de R$ 360 mil até acima dos R$ 300 milhões.
Os desafios para empreender não são novidade. São muitos os percalços encontrados pelo caminho. Entre os motivos que levaram essas pessoas consultadas pela pesquisa a empreender pela primeira ou pela segunda vez, sete em cada dez afirmou que a possibilidade de mudar a realidade em que vivem é a motivação principal. Na sequência aparece a ambição por um retorno financeiro maior do que o próprio trabalho (24%) e o desejo de liderar, não mais ser liderado (21%).
Para os analistas da ACE, essas respostas indicam que o empreendedorismo ainda é visto como uma ferramenta de transformação pelos brasileiros. Seja por oportunidade, seja por necessidade. Flexibilidade, cansaço de trabalhar em uma grande corporação e falta de oportunidades no mercado também apareceram entre as respostas, que podiam ser mais de uma.
Para mudar suas realidades, os fundadores das startups estão focando em negócios para o setor corporativo. A maioria (76,9%) vende serviços e produtos para outras empresas, não necessariamente grandes companhias. Somente 15,9% trabalham diretamente com o consumidor.
O modelo de negócios preferido é o Software as a Service (SaaS), com 44,4% das respostas. O SaaS permite que as startups ofereçam softwares como serviços e os clientes não precisam se preocupar em instalar ou atualizar nada, já que o software é executado na nuvem. Segundo os analistas “na maioria das vezes, a solução é contratada por meio de uma assinatura, o que ajuda a baixar o custo para as empresas”.
Desafios dos empreendedores
Segundo o levantamento, o primeiro desafio é a busca por ajuda para definir os primeiros passos do negócio. Um em cada três fundadores respondeu que não tiveram ajuda nesse processo. Entre os que tiveram apoio, os processos de aceleração foram o suporte inicial para 29,3% deles, dividindo espaço com as orientações do Sebrae (26,8%).
A pesquisa relacionou as empresas que declararam ter apoio com a taxa de crescimento das startups. Com isso, eles verificaram que a maioria (70%) das startups que tiveram auxílio inicial também reportaram desempenho acima dos 50% de crescimento nos últimos seis meses. “Tomando os dados compartilhados por empreendedores, é possível relacionar a longevidade de startups com a participação em programas de aceleração ou semelhantes”, diz o relatório da ACE.
Para o questionamento “quais os principais desafios em empreender?”, as principais respostas foram (o total é superior a 100% pois era possível escolher mais de uma alternativa):
atrair clientes (43%)
dispor de capital de giro suficiente (43%)
converter interessados em clientes (32%)
atrair as pessoas certas para trabalhar na startup (30%)
conseguir pagar a remuneração de mercado para os profissionais (30%)
Os dois problemas mais comuns das startups iniciais para atrair clientes são: 1) foco em uma visão de marketing antiquada, com pouca construção de marca e autoridade (inbound); 2) dificuldade em estabelecer a proposta de valor dos produtos.
Entre os problemas financeiros, os maiores são falta de networking e conexões, com 52% das queixa dos fundadores.
“O que é possível sugerir é que as startups mais bootstrap [que não possuem apoio de investidores] têm pouco acesso às mentorias, porque vêm de uma realidade diferente, sem um diploma em Stanford ou contatos na Faria Lima”, afirma Pedro Waengertner, fundador da ACE. “Essas pessoas não conseguem se conectar. Às vezes, estão fora do eixo; em outros casos, mesmo estando em São Paulo, não têm acesso a investidores e mentores para crescer”.
Os paraenses e os desafios de empreender
Jão Felipe Gomes, diretor do Do It Coworking, também é diretor de uma startup na Angola, um aplicativo de delivery chamado Mamboo. Ele conta que enfrentou muitos desafios em sua jornada empreendedora até a evolução do negócio.
“Um grande desafio é que muitas startups iniciam normalmente com a ideia dos sócios e em geral eles, sozinhos, têm de colocar a mão na massa para acontecer. Cada sócio tem sua competência e a aplica. E quando não se tem sócio, o desafio é ainda maior. Nesse momento geralmente não se tem dinheiro suficiente, mas se tem expectativa de que o negócio vai funcionar e vai dar certo. Ou seja, ter bons sócios e bons parceiros também é um desafio”, avalia João.
Outro desafio é saber controlar o orçamento para contratar funcionários e saber quando e como contratar. “No começo, nós erramos muito por falta de mão de obra qualificada e que coubesse em nosso orçamento. Contratar é um grande problema para toda startup que não tem a figura de um investidor inicialmente”, avalia.
“Nós procuramos várias empresas aceleradoras e nenhuma nos aceitou ou porque a gente não tinha o porte de faturamento que elas aceitavam ou porque elas não trabalhavam dentro da África. Ou seja, as dificuldades geográficas e a dificuldade de acesso às linhas de investidores também são, sem dúvida, um fator que atrapalha. Hoje se tem muito mais investidores do que há um tempo, mas eles exigem um mínimo de organização pra você vender a ideia pra eles”, explica João.
A importância das mentorias
João avalia que é essencial a quem está começando participar de mentorias. “Não há uma preparação, nem faculdade, nem na educação tradicional para ser empreendedor. Muitos empreendedores não aprendem nas faculdades sobre tomada de decisão, por isso as mentorias se tornam um grande diferencial. Por isso é muito bom aprender com pessoas que tiveram experiência, com erros e acertos nas tomadas de decisão”, pontua.
Segundo ele, um bom caminho para driblar os percalços é ter sócios e cada um com diferentes habilidades. “Isso vai dar longevidade maior à necessidade de ter um budget maior para contratações. Depois, é essencial ter uma equipe comercial sólida que possa estruturar processos comerciais de venda. Com isso você vai ganhar uma sobrevida em seu budget, se você tiver dentro do seu quadro societário pessoas que consigam tocar esses cenários e inclusive treinar as equipes para tal”, finaliza.
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