Professor de economia defende que, dentro de uma década, com o avanço da tecnologia e das soluções digitais, os países passarão a usar somente moedas não físicas.
Os bancos centrais, como o Federal Reserve dos EUA, estão imprimindo mais papel-moeda do que nunca. Mas o professor de economia da Cornell University, Eswar Prasad, que publicou um novo livro sobre o futuro do dinheiro, acredita que o dinheiro já não é mais útil. A notícia foi publicada pela Quartz, site especializado em negócios e inovação.
O livro de Prasad, The Future of Money: How the Digital Revolution is Transforming Currencies and Finance, é uma pesquisa abrangente de fintech, ativos criptográficos e moedas digitais do banco central (CBDCs). Prasad, que também escreveu livros sobre o renminbi (moeda chinesa) e o dólar americano, diz que a pesquisa o tornou otimista quanto ao futuro das finanças no mundo digital.
O ex-chefe da divisão do Fundo Monetário Internacional na China acredita que a inovação trará muito mais pessoas para o sistema financeiro formal, tornando esses serviços mais baratos e disponíveis até mesmo para pessoas com baixa renda. Prasad reconhece que existem riscos, como a perda de privacidade quando tudo o que compramos tem um registro digital, e a possibilidade de alguns serem excluídos quando o dinheiro físico é substituído por pagamentos digitais. Mas, no geral, ele está apostando que o futuro financeiro digital será melhor do que o que conhecemos.
O avanço digital e as grandes mudanças
Segundo Prasad, as mudanças tecnológicas têm um enorme potencial para democratizar as finanças. Ou seja, eles criam uma ampla gama de produtos e serviços financeiros, incluindo pagamentos digitais, acessíveis para as massas. Isso inclui pessoas de baixa renda em países em desenvolvimento como o Brasil. que podem ter acesso a um telefone celular, mas têm níveis de renda muito baixos. Mas também inclui os sem e os que não têm bancos, que constituem um número bastante grande, mesmo em uma economia avançada como a dos Estados Unidos.
"Estamos começando a ver os pagamentos digitais se tornarem a norma em um grande número de países, variando de economias muito avançadas a economias de baixa renda. E embora essas mudanças tenham enormes benefícios, elas também significam que o governo pode, de certa forma, se tornar um pouco mais intrusivo na sociedade. Podemos perder os poucos vestígios de privacidade que temos agora", explica o professor.
Existem novas tecnologias emergentes que podem permitir o uso de dinheiro digital do banco central ou mesmo criptomoedas descentralizadas emitidas por entidades privadas que ainda fornecem algum grau de anonimato nas transações.
A digitalização propicia enormes benefícios em termos de acesso fácil a capital para empreendedores de pequena escala, acesso fácil a programas bancários básicos, como crédito e produtos de poupança para famílias de baixa renda, e poder fazer muito isso sem necessariamente ter um cartão de crédito ou uma conta bancária típica, o que em alguns casos requer um nível de renda mais alto. A outra grande mudança no horizonte é que os pagamentos internacionais provavelmente se tornarão muito mais fáceis.
As pessoas estão usando cada vez mais os pagamentos digitais, mas alguns bancos centrais, e o Federal Reserve em particular, também estão imprimindo mais dinheiro físico do que nunca.
O que está acontecendo?
É um fenômeno intrigante que o estoque de moeda em circulação nos Estados Unidos e em algumas outras economias esteja subindo em um momento em que as pessoas parecem estar usando menos dinheiro.
A tangibilidade do dinheiro é certamente uma característica muito atraente. Coisas que são digitais parecem agradar em um bom nível. Existe um certo grau de segurança que as pessoas têm ao reter dinheiro.
Como é apontado no livro, existe esse elemento de que o dinheiro chega em apuros quando você tem desastres naturais ou outros fenômenos que causam o colapso dos sistemas de comunicação por causa de falhas de eletricidade e assim por diante. Portanto, o que caracteriza a demanda do fim do mundo por dinheiro pode chegar em um momento em que as pessoas vejam muitas coisas preocupantes acontecendo ao seu redor.
É também esse elemento que o dinheiro proporciona que certamente é explorado por aqueles que pretendem usá-lo para fins nefastos e ilícitos. E esta é uma das desvantagens do dinheiro do ponto de vista dos governos, que permite que o dinheiro emitido pelo banco central seja usado para fins como lavagem de dinheiro, financiamento do terrorismo e outras atividades ilícitas. E também permite que atividades econômicas legítimas floresçam nas sombras, o que significa que não fazem mais parte da rede tributária e reduzem as receitas do governo.
A demanda por notas de alto valor em todo o mundo aumentou um pouco, sugerindo que as pessoas parecem estar segurando o dinheiro como reserva de valor, e não como meio de transações ou meio de troca. No Brasil, por exemplo, foi criada a nota de R$200,00, o que seria a nota de maior valor, pouco usada pela população. Claro, é difícil determinar quanto do aumento nos depósitos de dinheiro é contabilizado por atividades ilícitas, mas é difícil imaginar que a taxa de uso de dinheiro em atividades ilícitas tenha aumentado durante a pandemia. Então, por esse motivo, o professor acredita que as pessoas estão realmente voltando para o que elas se sentem confortáveis, que é reter dinheiro mesmo quando elas usam menos.
O dinheiro em papel vai acabar?
É difícil imaginar o dinheiro continuando a ser um meio de troca viável no mundo depois de passar os próximos cinco a 10 anos, dependendo de qual país você está falando. Prasad afirma que a razão para isso é que, mesmo que os consumidores prefiram usar dinheiro, para as empresas, usar dinheiro é um aborrecimento. Eles têm que lidar com dinheiro. Eles têm que fazer mudanças. Eles precisam armazenar dinheiro. O dinheiro é vulnerável a perda e roubo. Então, já estamos vendo empresas em todo o mundo, preferindo migrar para as formas digitais de pagamento. Tanto do lado das empresas quanto dos consumidores, o desejo de usar o dinheiro vai diminuir ainda mais rápido quando houver mais opções disponíveis. Portanto, é muito difícil ver um cenário em que o dinheiro tenha um futuro viável.
As moedas digitais dos bancos centrais
Quartz perguntou ao professou se a alternativa mais viável é passarmos a usar as moedas digitais emitidas pelos bancos centrais. Ele disse que isso depende, até certo ponto, de como o CBDC está estruturado.
"Se um dólar digital fosse estruturado de uma forma que cada um de nós tivesse essencialmente uma carteira digital do banco central que poderíamos usar muito facilmente para fins transacionais, se isso fosse interoperável entre sistemas de pagamento, ou seja, não importa qual sistema de pagamento um comerciante pode ter, é fácil fazer pagamentos ... isso certamente, eu acho, nos impelirá a usar os CBDCs".
O real digital
Para Cláudio Gradilone, da Isto É Dinheiro, o Banco Central do Brasil (BC) tem sido o principal vetor de modernização da economia brasileira. As iniciativas mais visíveis são o Pix e o Open Bank.
O Pix é um sistema de transações gratuitas e instantâneas. O Open Bank (ou Open Finance, em sentido mais amplo) tornará o perfil financeiro dos cidadãos acessível a todos os bancos, aumentando a concorrência do setor.
O BC prepara uma autêntica revolução, com o lançamento do real digital. É mais simples explicá-lo por meio de uma comparação com o que já existe. Ele não será nem como os reais que estão na carteira e na conta corrente do banco. Tampouco será como o bitcoin.
O que já se sabe é que o real digital vai “conversar” com os sistemas que já existem e poderá servir também para a internacionalização da economia brasileira.
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