No último dia de maio, reuniu-se em Belém, capital do Pará, uma turma de especialistas em inovação, empreendedores, fundadores de startups e outros atores do ecossistema local. O evento, organizado em conjunto por lideranças distintas, proporcionou um interessante (e descoberto) bate-papo sobre o atual cenário de inovação da região. Entre as frases mais marcantes ditas pelos convidados destaco: "Estamos no fim da fila, mas nunca é tarde para começar". Os representantes das principais iniciativas locais e nacionais, tanto públicas quanto privadas, não pouparam comentários assertivos, livres de qualquer 'amarração'. Muito foi discutido sobre o caminho percorrido, mas também sobre os desafios simplórios ainda não superados que atrapalham o percurso. Se você quer saber como eles observam o 'retardatário', porém inquieto ecossistema de inovação do Pará, este é o artigo
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Alguém disse no final do evento, naquele momento em que todos estão buscando contatos e conversando aleatoriamente: "A Amazônia é vista lá fora como o novo Silicon Valley". Pena que não tive como entrar na conversa. Estava concentrado em outro tema. Mas esse comentário ficou gravado. É por isso que começo o texto com ele.
Em outros momentos da história, políticos, cientistas e ambientalistas diziam: "A Amazônia é o futuro". Me parece que esse pensamento ficou no passado. A Amazônia não é o futuro. A Amazônia é o agora.
Estamos vivendo uma etapa que posso definir cruamente como a virada de chave. Sim, porque de futuro só vivem os otimistas. Os empreendedores precisam viver o agora. De olho no futuro, mas com os pés e mãos agarrados no presente.
O jeito amazônico de empreender está ganhando o mundo:
Produtos são os novos queridinhos das prateleiras estrangeiras
Iniciativas internacionais procuram negócios sustentáveis nas terras indígenas
Ideias ganham destaques
E agora, puxando um pouco pro meu lado, o Brasil e o mundo tem um lugar otimizado para encontrar isso tudo
Falando ainda sobre a cultura empreendedora local, precisamos enraizar em nossas mentes o fato de que somos o povo mais privilegiado da terra. Pelo menos até onde a diplomacia deve garantir.
O bioma é o mais rico
A população está abrindo os olhos para a tecnologia
Polos de inovação estão surgindo não só nas grandes cidades nortistas, mas também no meio da transamazônica, e em municípios que até então não tinham despertado para as promissoras possibilidades dessa difusão
Dito sobre as expectavas, vamos direto para a realidade.
O evento em questão que aconteceu na José Malcher, mais precisamente na Elephant Coworking, trouxe aos mais de 100 participantes um respiro de encorajamento. Eu inclusive, no meu lugar de ouvinte, pude perceber de fato em que mundo estou me envolvendo. E acredite, fiquei bastante animado.
A InovAtiva Hub, um programa de aceleração nacional que acontece há mais de 10 anos, enviou sua Diretora de Núcleo de Recife, Morganna Tito, para apresentar as atividades que estão em andamento. O Inovativa Conexão, evento presencial que acontece em todos as regiões, foi o que deu pontapé no encontro e atraiu a comunidade.
Morganna é consultora, palestrante e fomentadora do ecossistema de startups. Em sua apresentação, observou:
"Vocês (paraenses) são privilegiados pelo local onde vivem. Todos lá de fora querem conhecer o que estão criando. Basta dizer 'somos do Norte' que eles ficam atentos ao que têm a dizer. Então aproveitem isso".
Fabrício de Paulo, fundador da Amazônia Lab, atuou no encontro como mediador de uma conversa que aconteceu logo em seguida da apresentação de Morganna, e assim liderou especialistas locais no assunto que me motivou a escrever esta matéria.
Se você quer saber sobre editais públicos e privados, não só do Pará mas também de outros estados, Fabrício é o nome.
Em sua introdução, o mentor e palestrante, escreveu num quadro quais são os principais programas ativos no Estado e que estão liberando recursos em dinheiro para startups.
"Toda startup precisa de recursos. Independente se você quer escalonar, estruturar ou divulgar o seu negócio, é de recursos que a sua startup precisa". Circulando os valores no quadro, Fabrício indagou a plateia. "Vocês estavam sabendo que tudo isso está disponível?"
Mas não é só de pontos positivos que vive um setor. O ecossistema de startup paraense passa por um momento crucial. E isso quem veio alertar foi Iara Neves, Consultora Projetista de Incentivos Fiscais no Pará e Coordenadora da Incubadora PIEBT/UFPA. Foi ela quem proferiu a frase: "Estamos no fim da fila, mas nunca é tarde para começar".
Com bastante convicção, Iara levou todos para um lugar mais realistas:
"Precisamos melhorar a qualidade dos nossos programas de inovação. E precisamos melhorar a nossa comunicação. Muitas vezes temos editais semelhantes acontecendo paralelamente, sendo que poderiam muito bem somar forças e assim colher mais frutos", disse ela. "Inovação é feita, grande parte, através de networking. Precisamos ser exemplos. Não adianta de nada eu ter uma sala disponível em uma em incubadora e não fazer networking".
Vitor Alves, vice presidente da Associação de Startups do Pará (Açaí Valley), um dos nomes mais atuantes na cidade, tendo ganhado prêmios nacionais e internacionais, empreendedor, fundador de startup e youtuber (um generalista), contribuiu para o assunto:
"Falta as startups expor um pouco mais suas ideias e não ter medo de vender uma parte da empresa para um investidor", disse ele. "Os fundadores de startups precisam entender o que é equity. Para um investidor se sentir atraído pelas startups e investir seu dinheiro, ele primeiramente saber qual porcentagem do negócio vai ficar com ele. Isso é essencial. Mas sinto que os negócios daqui, não generalizando, ainda estão reticentes nesse sentido".
Quer se aprofundar sobre equity? Leia este artigo.
Convidado pelo mediador, Milksom Campelo, coordenador de Prospecção, Transferência de Tecnologia e Negócios do PCT Guamá, se juntou à conversa. Seu relato foi surpreendente. Depois de falar sobre o que faz a fundação Guamá, Milksom falou sobre a sua experiência, levando as possibilidades oferecidas pelo único parque de tecnologia e inovação do Norte do país para cidades como Redenção e Itaituba, interior do estado.
"Foram os locais que mais recebemos propostas. Ficamos impressionados com o resultado. As cidades do interior estão lotadas de ideias, de negócios inovadores. Sobre isso, percebemos que precisamos descentralizar. Levar essas soluções que temos nas capitais para os interiores".
Na mesma sintonia, Deyvison Medrado, diretor científico da Papespa e coordenador estadual do Centelha, revelou que o estado do Pará é um dos que mais concentra inscrições nos programas que coordena. Exemplificando, Deyvison disse que o Centelha Pará está chegando entre os três do país que mais recebem cadastros para o programa que acontecerá no segundo semestre do ano, que inclusive tem o apoio técnico e financeiro do MCTI e das agências federais de fomento.
"O estado tem diversos programas de alto nível. E tem também os apoiadores como a FAPESPA PCT Guamá que conectam com os programas nacionais. É preciso que os empreendedores tenham conhecimento disso", ressaltou ele.
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