Iniciativa é vista como uma tentativa de quebra de monopólio da B3. Em Belém, criação é tida como uma possibilidade
O anúncio na última quinta- feira (3) de que o Rio de Janeiro será novamente sede de uma Bolsa de Valores trouxe à tona discussões sobre a possibilidade de reativação em outras cidades. No Brasil, várias já tiveram suas próprias instituições, inclusive Belém, antes da centralização das operações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que mais tarde se tornou a B3 (Brasil, Bolsa, Balcão), até então, a única bolsa brasileira em operação.
A capital paraense foi sede da Bolsa de Valores do Pará. Ela começou a ser construída na passagem dos séculos XIX e XX. Neste período, a cidade experimentava um grande desenvolvimento econômico. Era o auge do ciclo da borracha, e a Amazônia e Belém, em particular, eram importantes centros de negociação com a Europa. O principal produto negociado era, obviamente, a borracha. O prédio da bolsa, em meados de 1930, deu lugar à Praça do Relógio.
Agora, o movimento é de “quebra de monopólio”, como definiu Claudio Pracownik, CEO (diretor-executivo) do Americas Trading Group (ATG), durante o anúncio da nova instituição, ao lado do prefeito carioca Eduardo Paes. Na ocasião, eles informaram quea previsão é que a nova bolsa comece a operar no segundo semestre de 2025. Paes, durante a cerimônia, sancionou uma lei municipal que incentiva a instalação da instituição.
Além de Belém, outras capitais brasileiras que já tiveram bolsas de valores são Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Recife, Salvador e Fortaleza, entre outras cidades. Oficialmente, elas sediaram as Bolsas de Valores de Minas Gerais, Porto Alegre, Paraná, Pernambuco, Bahia e Ceará, respectivamente. Contudo, essas instituições foram gradualmente extintas e as restantes integradas a partir da centralização das operações em São Paulo, culminando na criação da B3.
“É um debate a ser feito”, diz prefeito de Belém
Apesar de pontuar que a reativação de uma bolsa em Belém “não é uma prioridade imediata”, o prefeito da capital paraense, Edmilson Rodrigues, não descarta totalmente a possibilidade, e diz que este “é um debate a ser feito”. “Considerando que o Pará abriga grandes empresas e é responsável pela maior pauta de exportação de minérios e produtos semi-elaborados do Brasil, temos um cenário favorável”, avalia.
Edmilson cita que o Rio já foi capital do Brasil e tem uma estrutura administrativa grande, além de abrigar grandes empresas, mas destaca que o Pará também tem seus atrativos para o mercado. “Temos a indústria de alumínio mais poderosa do mundo e somos um grande produtor de commodities como gado bovino e bubalino. As cotações das mercadorias nas bolsas de valores influenciam diretamente o capital das empresas e investidores, o que pode atrair novos investimentos”, projeta.
“Acredito que ajudaria Belém, pois nos tornaria uma referência. Muitas empresas buscam colocar ações em bolsas de valores estrangeiras para obter projeção internacional. Se Belém criar uma bolsa, ela será uma opção para investidores. Embora possamos enfrentar ceticismo, temos uma base econômica forte, com a exportação de minérios e commodities agrícolas, que pode sustentar uma bolsa de valores regional”, acrescenta Rodrigues.
O prefeito também analisa que uma bolsa de valores em Belém seria um instrumento para viabilizar grandes negociações. “Parauapebas superou São Paulo em volume de exportação, e Canaã dos Carajás está próxima de alcançar o mesmo. Esses municípios são potências na exportação de ferro e cobre. A capital do Pará pode se credenciar para ser um centro de grandes negociações de commodities, refletindo nossa capacidade de produção e exportação”, diz.
Bolsa local poderia ajudar empresários, avalia especialista
Leonardo Cardoso, assessor de investimentos de um escritório em Belém credenciado da XP Investimentos, e que atua diretamente com a bolsa, avalia com bons olhos o movimento. “É muito interessante, tanto para o investidor quanto para as empresas que buscam abrir capital e levantar recursos”. Ele pontua que “há mais de 20 anos o Brasil não tem uma segunda opção de bolsa de valores, desde a aglutinação da bolsa de valores carioca pela B3”.
Cardoso avalia que a descentralização das bolsas de valores no Brasil, com a abertura de novas unidades em diferentes estados, pode ser benéfica. Ele destaca que países desenvolvidos como os Estados Unidos, múltiplas bolsas permitem a segmentação de empresas, com cada setor tendo sua própria bolsa. Para ele, “a criação de novas bolsas pode fomentar a cultura de investimentos nos estados e incentivar novas empresas a abrirem capital”.
Ele informa que, segundo a B3, existem cerca de seis milhões de contas abertas na bolsa, com um total investido superior a R$ 500 bilhões. Destes, cerca de 0,5% são investidores paraenses. Para Cardoso, a representatividade ainda é pequena comparada ao eixo Sul-Sudeste. Apesar disso, ele acredita que “uma bolsa local poderia ajudar empresários a acessar recursos mais baratos através do mercado de capitais, e também a ganhar relevância nacional e, quem sabe, internacional”.
Fonte: O Liberal
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