No mundo da moda, os elementos da cultura marajoara ganharam ainda mais popularidade com as tradicionais camisas de vaqueiro e com as estampas aplicadas em diferentes tipos de roupas.
Mundialmente reconhecidos, os grafismos das cerâmicas marajoaras são um símbolo da cultura paraense. O traçado original foi criado pelas sociedades que viveram na região no período entre os anos 400 e 1600, mas ainda hoje esses símbolos permanecem vivos. Um exemplo disso ocorre no campo da moda, onde os elementos da cultura marajoara ganharam ainda mais popularidade com as tradicionais camisas de vaqueiro e com as estampas aplicadas em diferentes tipos de roupas.
Vestimenta típica dos vaqueiros seja no trabalho no campo ou em ocasiões sociais, as camisas marajoaras ganharam fama além das fronteiras desde que o governador do Pará, Helder Barbalho, passou a utilizar esses trajes em eventos como a Cúpula da Amazônia e a visita do presidente Emmanuel Macron à Belém. A visibilidade fez aumentar a procura pelas camisas que foram produzidas por artesãs e bordadeiras que vendem as peças na loja do Museu do Marajó, em Cachoeira do Arari.
De acordo com a coordenadora da loja, Rosimere Feio, chegam a ser vendidas cerca de 100 camisas marajoaras por mês. A demanda é constante tanto de clientes do próprio estado como de fora, mas o desafio é atender a todos os pedidos, já que a peça é produzida artesanalmente com bordados alusivos à cultura marajoara feitos à mão.
“Essa popularização foi de forma muito positiva porque criou um grande fortalecimento cultural. Eu posso destacar essa arte como um legado que retoma a nossa história, não que ela fosse esquecida por sua antiguidade, mas é como se ela estivesse adormecida e que agora despertou como inspiração para os nossos artistas e artesãos”, diz.
Atualmente, um grupo de 10 bordadeiras e quatro costureiras está à frente do trabalho, porém novas profissionais que estão em formação devem se juntar ao time em breve visando o aumento da produção, mas sem perder de vista o cuidado com as raízes culturais e as particularidades de cada camisa.
“Cada peça produzida representa ganho econômico e melhoria da qualidade de vida das nossas artesãs. Outro grande diferencial é que é um trabalho nosso, que é da nossa história, que nos engrandece de forma humilde, mas positiva. São produtos feitos artesanalmente e que geram um fortalecimento dos laços sociais e culturais dentro do nosso município. Todos ganham, em especial a nossa população”, destaca Rosimere Feio.
Novas criações com grafismo marajoara
A valorização dos grafismos dos povos marajoaras na moda não é de hoje. Há 16 anos, a empreendedora Rosilda Angelim, natural de Salvaterra e moradora do município de Soure, começou a fazer pinturas manuais com o traçado para estampar camisas básicas e, assim, promover a cultura local através de roupas de uso cotidiano.
As primeiras aplicações foram em camisas brancas, depois outras cores e modelos de roupas, como a camisa regata, o vestido, o cropped e até o quimono também ganharam a estamparia marajoara. Os cerca de 20 modelos criados fazem parte da coleção da marca Cañybó.
“A gente sempre teve dificuldade de trabalhar com a camisa do vaqueiro marajoara porque é uma peça que demora a ser confeccionada. Tem que ser feita em um tecido 100% algodão e em modelo de alfaiataria. Então, eu vi a possibilidade de lançar outras peças com o grafismo marajoara. Comecei com pintura manual atendendo poucos clientes e depois passei para a serigrafia, sempre pensando em modelos comuns, do dia a dia. A diversidade da cultura é gigante e nos permite criar muitas coisas diferentes”, conta Rosilda Angelim.
Aliando tradição e criatividade, as roupas da Cañybó começaram a chamar a atenção de artistas e influenciadores locais, como a ex-BBB Alane Dias, que usou um vestido da marca durante o reality show, além de consumidores de fora do estado que ajudam a ampliar os horizontes para expansão da moda marajoara.
“Quando essa tendência explodiu, eu pude aproveitar mais a divulgação. Hoje tem muitas pessoas criando novos negócios nesse ramo e eu acho isso positivo porque são novas pessoas agregando, atraindo mais público e ajudando a elevar o Marajó. O objetivo de todos é fazer o Marajó voar o mais alto possível”, afirma.
Com o Pará diante dos holofotes mundiais, a expectativa é que a procura pelas camisas marajoaras e novos modelos continue em alta, por isso os grupos envolvidos comemoram a recente criação do Polo de Moda do Marajó, desenvolvido pelo Sebrae Pará para estimular a capacitação de mão de obra, a valorização da cultura e a economia criativa no arquipélago.
“O polo de moda veio pra dar mais força pra gente que forma esse coletivo de 48 mulheres. Ficamos felizes porque vemos que agora não estamos mais só e que tem órgãos nos ajudando a manter a nossa história e a nossa ancestralidade fortes”, ressalta Rosilda Angelim.
Fonte: Fabrício Queiroz/Pará Terra Boa
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