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Comentários de Trump sobre ampliar o território dos EUA repercute; entenda as consequências para o mundo

Trump revive debates sobre expansão territorial dos EUA, mas chances de execução são remotas. No entanto, posicionamento gera consequências e incertezas no sistema internacional


Donald Trump
Reprodução: Unsplash

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que tomará posse para seu segundo mandato em 20 de janeiro, tem aproveitado as últimas semanas para expressar desejos imperialistas que levantam preocupações nas relações internacionais.


Entre suas declarações, Trump sugeriu anexar o Canadá como o 51º estado americano, comprar a Groenlândia por questões de segurança nacional e retomar o controle do Canal do Panamá, conforme publicado pela Belém Negócios. Essas ideias despertam perguntas não apenas sobre sua viabilidade, considerando as negativas das partes envolvidas, mas também sobre seus impactos internos e externos.


Canadá


Trump afirmou novamente que transformar o Canadá no 51º estado norte-americano seria possível por meio da "força econômica". Ele argumentou que a fronteira entre os dois países foi "artificialmente traçada" e que a união seria “algo muito grande”.


Historicamente, a ideia de incorporar o Canadá aos Estados Unidos não é nova. Durante a Revolução Americana, os primeiros líderes dos EUA invadiram Quebec, sem sucesso. Mais tarde, na Guerra de 1812, os EUA tentaram novamente conquistar territórios canadenses, sob a justificativa do "Destino Manifesto", uma doutrina que sustentava a expansão americana no continente.


Entretanto, ao longo do século XX, os temores de anexação deram lugar a uma aliança entre as nações. Hoje, Canadá e EUA são parceiros no NORAD e na OTAN. Uma pesquisa recente da Leger mostrou que 82% dos canadenses rejeitam qualquer ideia de integração aos EUA. Além disso, especialistas apontam que diferenças culturais, como o fato de um quarto da população canadense falar francês, tornam essa proposta inviável.


Groenlândia (Dinamarca)


Trump também reacendeu a proposta de adquirir a Groenlândia, argumentando que a ilha é estratégica para a segurança dos EUA. A maior ilha do mundo, com 56 mil habitantes, é rica em recursos minerais e possui importância militar, abrigando a Base Espacial Pituffik, usada para monitoramento de mísseis.


A ideia de comprar a Groenlândia já foi considerada anteriormente. Em 1867, o presidente Andrew Johnson cogitou a compra após adquirir o Alasca. Décadas depois, Harry Truman ofereceu US$ 100 milhões pela ilha. Apesar disso, a Groenlândia, que possui autogoverno desde 2008, rejeita a anexação. O ministro dinamarquês Lars Lokke Rasmussen reiterou recentemente que a ilha só mudará de status caso seus moradores assim decidam.


Canal do Panamá


Outra proposta controversa de Trump é retomar o controle do Canal do Panamá. Ele alegou que o Panamá cobra tarifas excessivas dos EUA e sugeriu que o canal está sob influência chinesa, o que foi negado pelo governo panamenho.


Construído pelos EUA no início do século XX, o canal foi devolvido ao Panamá em 1977 após tratados negociados por Jimmy Carter. Hoje, a via é gerida pelo Panamá e é essencial para o comércio internacional. Especialistas destacam que tentativas de reverter esse status seriam recebidas com forte resistência política e econômica, além de potencialmente comprometerem a estabilidade na região.


Embora as ideias de Trump de expandir o território americano não sejam novas na história dos EUA, a execução de qualquer uma delas enfrenta barreiras práticas e políticas. A falta de interesse das partes envolvidas e as complexas implicações internacionais tornam essas propostas, no mínimo, improváveis.


Consequências do posicionamento no sistema internacional


As recentes declarações do ex-presidente Donald Trump suscitaram debates intensos na esfera internacional. Embora essas ideias possam ser consideradas pouco factíveis, elas carregam implicações que vão além da retórica política, tocando em aspectos econômicos, geopolíticos e no equilíbrio de poder global.


O internacionalista e Doutor em Ciência Política, Murilo Mesquita, avalia que as declarações de Trump refletem tendências mais amplas que influenciam tanto as relações internacionais quanto a previsibilidade do ambiente de negócios global.

"A retórica de Trump pode ser analisada sob duas lentes principais: a econômica, com a emergência do nacionalismo econômico, e a geopolítica, marcada pela ascensão do BRICS como contraponto à hegemonia estadunidense". afirmou.

Mesquita destaca ainda, que a ideia de adquirir territórios estratégicos, como a Groenlândia, está inserida em uma lógica de controle de recursos naturais e segurança nacional. No caso do Canal do Panamá, o discurso aponta para uma tentativa de resgatar políticas de controle direto de rotas comerciais estratégicas, marcando um retorno ao unilateralismo em detrimento da cooperação multilateral.


"O nacionalismo econômico promovido por Trump reflete uma tentativa de proteger e reforçar a hegemonia econômica dos EUA frente à rivalidade crescente com a China, especialmente em um cenário de ascensão de iniciativas como o Cinturão e Rota", explica Mesquita.

Essa disputa sino-americana pode, segundo ele, intensificar as guerras comerciais e afetar cadeias globais de suprimentos, impactando o fluxo de capitais e o custo dos negócios internacionais. Além disso, o especialista alerta que a retórica de Trump pode reforçar a coesão do BRICS, bloco que busca reformular o sistema internacional.


"As críticas ao unilateralismo dos EUA podem impulsionar a criação de alternativas multilaterais, como o fortalecimento do Novo Banco de Desenvolvimento, e fomentar movimentos de desdolarização, reduzindo a influência americana no comércio global", conclui Mesquita.

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