Região tem grande potencial e pode se tornar o polo mundial da bioeconomia
A Amazônia tem vocação natural para abrigar iniciativas de bioeconomia e um dos maiores bancos da Europa está de olho nesse potencial. Segundo a chefe de sustentabilidade do banco francês BNP Paribas no Brasil, Katerina Trostmann, existe toda uma complexidade em efetivar projetos que deem uma guinada maior na estrutura econômica em torno da região, mas já há várias ideias e tentativas sendo gestadas. As informações são do Valor Econômico.
“Estamos inseridos em conversas com entes federativos e estaduais sobre bioeconomia e também com clientes. É uma pauta que faz muito sentido para o Brasil. Como extrair o máximo valor possível da floresta com tecnologia de ponta sem precisar derrubá-la”, disse Trostmann em entrevista ao Valor. “Meu sonho é poder contribuir de alguma forma com a reflorestação da Amazônia em escala. Então, estou procurando projetos, conversando com clientes e outros parceiros nessa linha para poder identificar isso”, acrescentou.
De acordo com a chefe de sustentabilidade do BNP Paribas, a missão é difícil, mas existe no mundo um precedente que serve como inspiração: o projeto realizado na Indonésia chamado “Tropical Landscapes Finance Facility” (TLFF). Trata-se de iniciativa que promove financiamento e levantou capital para investir na produção sustentável de borracha, um produto que historicamente representa, ao mesmo tempo, a atração de recursos financeiros e a exploração ambiental e social para o país do sudeste asiático.
O BNP é um dos membros fundadores desse projeto junto com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a ADM Capital, gestora de investimentos de impacto na Ásia, e o World Agroforestry Centre, organização científica que os benefícios das árvores para as pessoas e o meio ambiente.
“Nós estamos procurando essas oportunidades também. Algumas estão prometendo”, conta Trostmann, ponderando que o trabalho exige cuidado e tempo. “Estou procurando isso há mais de um ano. É bem complexo, pois precisa envolver vários parceiros. Para um banco como o BNP entrar tem que ter um aporte de um capital de risco que pode vir de um banco multilateral, por exemplo. Ajuda quando há apoio do setor público também. Por isso, estamos conversando com o governo estadual [do Amazonas]. E, como estamos falando de gerar impacto, precisa agregar organizações que entendem de impacto”.
De acordo com a executiva do BNP, achar a organização certa que pode fazer uma boa gestão de um projeto desse tipo é difícil. Outro desafio é alinhar as expectativas entre um banco financeiro e um banco multilateral, por exemplo. “É bastante complexo. Estou consciente que isso pode demorar alguns anos para se estruturar.”
Para Trostmann, no entanto, a vantagem é que atualmente tanto as empresas quanto governos e sociedade civil estão se movimentando em direção à busca por iniciativas que não contribuirão com a degradação ambiental. “A mudança climática é um problema sistêmico e as empresas entenderam isso”.
Ao falar em risco sistêmico, a executiva reforça o coro de profissionais de investimentos que já observam e tomam em conta os riscos da mudança climática na hora de alocar recursos. “A precificação do risco socioambiental e climático será integrada cada vez mais na matriz de risco das empresas e instituições financeiras”, diz Trostmann, ressaltando que há o lado do risco e também o lado das oportunidades geradas ao investir em ações ambientalmente responsáveis. “É aí que estamos vendo empresas criando planos de descarbonização, metas e planos de sustentabilidade mais integrados e ambiciosos”.
Segundo ela, hoje cada cliente é avaliado pelas políticas de risco socioambiental do BNP. “Isso nos ajuda a verificar que o capital que estamos alocando correspondem com alguns critérios”, disse, prevendo que no futuro será criado um arcabouço legal que terá que ser seguido por todas as empresas.
“Portanto, quem já estiver fazendo isso, está se antecipando de maneira favorável para poder atuar por meio de um arcabouço legal. Já as empresas que demorarem um pouco mais vão ter que arcar com custos maiores no futuro para se adaptarem a novas leis e novas políticas. Mostrar para os investidores que a companhias está disposta a se adequar com padrões socioambientais agrega muito valor com investidores e outros parceiros”, avisa.
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