Com quase 3 bilhões de reais gastos até aqui, BRT metropolitano segue sendo a obra mais imprevisível dos últimos tempos no Pará
Em valores atualizados, já foram gastos mais de R$ 3 bilhões, com recursos inicialmente do PAC Mobilidade Urbana, da Prefeitura de Belém e, em sua etapa mais recente, também do governo do Estado, no chamado BRT Metropolitano, orçado inicialmente em 176 milhões de dólares, três vezes mais caro que o BRT de Las Vegas.
Se estivesse pronto, a maior intervenção de mobilidade urbana de Belém estaria atendendo mais de meio milhão de usuários da região metropolitana ou 600 mil pessoas. Quase 12 anos depois do início, a falta de infraestrutura no que já foi feito até aqui e os transtornos provocados pelos serviços ainda inacabados são constantes alvos de reclamações diante da única saída e entrada da capital paraense.
GESTÃO DUCIOMAR COSTA
Idealizada com o objetivo de desafogar o tráfego de veículos e facilitar a locomoção de pessoas no dia a dia, o BRT foi planejado para ter uma extensão de 20 km, interligando o distrito de Icoaraci até Belém via BR 316. O projeto inicial previa 23 paradas ao longo do percurso, até o bairro de São Brás, onde um terminal de integração faria a distribuição dos passageiros para outros bairros. Ousado, o projeto foi orçado em 430 milhões de reais, com obras previstas para iniciarem em 2012 e terminarem em apenas 18 meses. Só havia 50 milhões em caixa. Com problemas na licitação, as obras foram paralisadas por diversas vezes.
NÃO DEU TEMPO…
Em 2013 Zenaldo assinou novo contrato de financiamento com a Caixa Econômica Federal (CEF) na ordem de R$ 314 milhões, para garantir a retomada das obras do BRT na Avenida Almirante Barroso. No segundo semestre, assina outro contrato de financiamento com o Tesouro Nacional, no valor de R$ 100 milhões, oriundos do Orçamento Geral da União (OGU), também para as obras do BRT.
Em outubro de 2013 a primeira estação implementada na Almirante Barroso com a Perebebuí tinha formato de tubo, era revestida de vidro e sem assentos. (na época a promessa era de que o tempo de espera seria mínimo). A ideia era que fosse climatizada e com capacidade de até 75 pessoas. O modelo inspirado na cidade de Curitiba (PR) não teria levado em consideração o clima quente de Belém. A estrutura precisou ser retirada.
INAUGURAÇÃO PARCIAL
O sistema BRT Belém foi inaugurado parcialmente em 2019, com todas as estações sendo entregues, mas sem linhas alimentadoras para o Sistema Troncal, assim como a falta de urbanização no trecho após o Terminal Tapanã até o Terminal Maracacuera, já em Icoaraci.
Ainda em 2020, a prefeitura de Belém inaugurou o projeto "Integra Belém", um projeto que consiste em 19 linhas de ônibus que foram criadas ou tiveram seu trajeto alterado para realizar a integração nas estações e terminais ao longo da Av. Almirante Barroso e da Av. Augusto Montenegro.
GESTÃO EDMILSON RODRIGUES
Edmilson Rodrigues assumiu a gestão de Belém em 2021, ano de pandemia. As obras do BRT estavam concluídas em Belém, mas o sistema estava praticamente inoperante.
Em novembro de 2021 foram integradas 25 linhas ao sistema, mas não o suficiente para atender toda a demanda. 20 mil pessoas usam o BRT todos os dias o Observatório Social de Belém.
Para a estudante de psicologia, Paola Beatriz, que utiliza diariamente o serviço do BRT, o sistema não é comporta a quantidade de pessoas que necessitam. "Todos os dias eu utilizo o serviço, que até funciona, mas não supre a demanda de pessoas que também fazer uso do serviço. Está sempre lotado e os ônibus acabam demorando mais do que o esperado".
GESTÃO HELDER BARBALHO
Com a promessa de ampliar e integrar o BRT à região metropolitana, o governo do estado assumiu a responsabilidade de requalificar a BR-316 e integrar o transporte público da Região Metropolitana de Belém.
De acordo com o Portal da Transparência, até outubro de 2023 já haviam sido gastos R$ 423,7 milhões com o Bus Rapid Transit (BRT) Metropolitano. O valor representava 88,6% do orçamento previsto que, atualmente, é de R$ 478,1 milhões, segundo levantamento da Agência Cenarium.
As obras iniciaram em 2019, com o prazo de conclusão de 19 meses no contrato firmado, inicialmente, com a empresa Odebrecht Engenharia e Construção Internacional S.A, alvo da Operação Lava Jato, que recebeu R$ 153 milhões do Governo do Pará.
O prazo de inauguração estava previsto para finalizar em agosto de 2020, depois ficou para o primeiro semestre de 2023 e, hoje, o novo prazo foi definido para o final de 2024.
Em visita às obras do BRT, em Belém, no dia 9 de fevereiro de 2022, o governador Helder Barbalho (MDB) prometeu entregar a obra no primeiro semestre de 2023, o que não ocorreu.
O médico Matheus Alves, que atende diariamente pacientes em Marituba afirma que a demora na finalização das obras aumentou o tempo do seu deslocamento. "Eu geralmente fazia o trajeto em cerca de 40 minutos, hoje eu demoro 1h30 pra conseguir passar pelo trecho em reforma. Isso reflete nos meus atendimentos, os pacientes acabam tendo que esperar mais quando ocorre algum acidente no caminho ou quando o trânsito está mais lento que o normal".
Além da implantação do Sistema Troncal de Ônibus, estão previstas também drenagem, paisagismo e iluminação da rodovia; a construção de um centro de controle operacional, que vai operar o sistema; 22 quilômetros de ciclovia; dois terminais de integração, um em Ananindeua e outro em Marituba; e 13 passarelas ao longo da rodovia.
As obras, que começaram em 2019, são executadas pelo Núcleo de Gerenciamento de Transporte Metropolitano (NGTM), órgão ligado ao governo estadual e, atualmente, operacionalizadas pelo Consórcio Mobilidade Grande Belém, formado pelas empresas Construtora Marquise e Comsa S.A. A Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica) financia 78% do projeto, enquanto os demais, 22%, são recursos do Tesouro Estadual.
Odebrecht Engenharia
Em 2018, o Governo do Pará pagou R$ 38 milhões à Odebrecht Engenharia, empresa vencedora da licitação realizada em 2017, para iniciar as obras que só começaram em 2019. A empresa foi alvo de operação da Polícia Federal (PF), em 2014, por associação criminosa e lavagem de dinheiro, quando o seu principal executivo, Marcelo Odebrecht, foi preso sob acusação de pagar propina para gestores públicos.
Em 2020, a Odebrecht recebeu mais R$ 19 milhões do Governo do Pará, e em 2020, R$ 67 milhões. Em 2021, a construtora ficou ainda com R$ 29 milhões, totalizando R$ 153 milhões, e largou a obra por discordar do governo paraense nos aspectos da execução do projeto.
No lugar da Odebrecht, assumiu o Consórcio Mobilidade Grande Belém – o segundo colocado na licitação – que iniciou os serviços em outubro de 2021, quando recebeu, naquele ano, o valor de R$ 47 milhões. Em 2022, recebeu R$ 84 milhões; e de janeiro deste ano até o dia 30 de setembro o Estado fez o maior repasse financeiro desde o início das obras: R$ 141 milhões.
No montante, somente o Estado já repassou mais de 423 milhões às empresas que se dispuseram a concluir as obras do BRT Metropolitano.
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