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A Arte Sob A Ótica De Um Empreendedor

Afinal, o que é arte e qual sua função?


A Arte Sob A Ótica De Um Empreendedor
Imagem: Jack Hamilton/Unsplash

Uma pergunta simples com uma das respostas mais difíceis de ser respondida. Muitos afirmam saber, até serem confrontados e perceberem que suas respostas, por mais fundamentadas que sejam, são pessoais, subjetivas e carregadas de lacunas que levam a grandes e infindáveis debates.

“Arte é a atividade humana que consiste em um homem conscientemente transmitir a outros, por certos sinais exteriores, os sentimentos que ele vivenciou, e esses outros serem contagiados por esses sentimentos, experimentando-os também” (Leon Tolstói)

Minha mãe não é daquelas que coleciona artigos que fizeram parte da vida de seus filhos, mas em sua minúscula coleção de artefatos, dentre os que correspondem à minha pessoa se faz presente meu primeiro caderno de artes. Nunca perguntei o que a motivou a guardar, dentre tantos outros, justamente esse, mas ao folheá-lo percebo a sensibilidade e dedicação na busca pelo belo daquele garotinho de 3 anos. Não lembro de usar tal caderno, mas lembro de ficar horas e horas ouvindo sozinho, aproveitando minha curta vida de filho único, a coleção de Tenores que meus pais possuíam, o que pode parecer nada previsível para uma criança. Mas engana-se quem pensa que me tornei um artista, na verdade trilhei o caminho dos negócios. Minha paixão pela arte aliada ao meu sangue empreendedor me fizeram criar um negócio que une os dois, a Pupti, marca de artes e design amazônico de luxo. Hoje, vejo a arte não apenas como demonstração do belo, busca do prazer, fonte de emoções, mas também a vejo como investimento, ferramenta de mudança e impacto, e acredite, não sou o único que pensa assim. Mas se isso procede, então o que é a arte?


Os maiores pensadores da história se importaram com essa pergunta, mas suas visões estão longe de chegar a um consenso. Aristóteles associa a arte à beleza, enquanto Tolstói à associa ao bem; Platão vê a arte como uma imitação, enquanto Nietzsche enfatiza seu poder de criação; Para Kant, arte é racional, enquanto Hegel a vê como manifestação espiritual; Giorgio Vasari vê a atividade artística como fruto de um trabalho reflexivo individual, enquanto que Kralik a vê como derivada dos cinco sentidos (gosto, olfato, tato, audição e visão). Espero que isso ajude-os a entender que não há uma resposta universal.


Com origem no latin “ars, artis”, a partir de uma raiz grega “téchne”, inicialmente concernente ao conjunto de habilidades naturais ou adquiridas, passou a focar em uma área mais específica, ou seja, o que transmite beleza e desperta sentimentos. Por mais que expressões artísticas sejam percebidas na história desde a pré-história, é na Grécia antiga que vemos o surgimento de um contexto artístico tal como conhecemos hoje, a Teogonia de Hesíodo e suas musas são exemplos disso. Na antiguidade clássica havia a separação entre artes liberais (relacionadas às atividades mentais) e as artes mecânicas (relacionadas às atividades manuais), de forma semelhante, os gregos separavam a arte superior (relacionadas aos sentidos superiores, visão e audição), das menores (geralmente associadas aos ofícios manuais e ao artesanato). No século XVI, as chamadas “Academias de Artes” fazem a distinção entre artes e ofícios, trazendo com isso, status superior ao artista, que diferentemente do artesão comum passam a ser teóricos e intelectuais, além de merecerem formação especializada. A tentativa de hierarquizar a arte continuou e muitos outros termos e conceitos foram criados para tal finalidade, “Artes nobres”, porque mais "perfeitas" (século XVI); "artes memoriais", que mantêm a memória das coisas e acontecimentos (século XVI), "artes pictóricas", que trabalham com imagens (século XVII); "artes agradáveis" (Giambattista Vico, 1744), todos esses são termos empregados para classificar e hierarquizar as várias formas de criação artística, e durante séculos, a ideia de arte se manteve restrita a padrões fortemente estabelecidos, o que só começou a mudar no renascimento. Aperfeiçoando a distinção criada pelos gregos, no século XVIII, Betteaux cria o termo baux-arts (belas-artes), fazendo agora a distinção entre as chamadas “artes superiores” - de caráter não utilitário (poesia, pintura, música e dança) - e as artes aplicadas e artes decorativas (como a arquitetura), sendo duramente criticado posteriormente na Enciclopédia (Diderot e D’Alembert), que incluiram a arquitetura no conceito, o que levou posteriormente à criação do conceito “as 5 artes” na Inglaterra. No século XX, o “Manifesto das Sete Artes” de Ricciotto Canudo aparece pela primeira vez o conceito “sétima arte” relacionado ao cinema, criando assim a distinção aceita até hoje, composta por arquitetura, escultura, pintura, música, dança, literatura e cinema.


No campo filosófico, basicamente o conceito de arte pode ser dividido em cinco categorias, sendo elas:


1. Arte como representação ou mimesis (representação de algo tal qual nos é mostrado pela natureza)


2. Arte como expressão (arte como expressão de emoção, sentimento e carregada de subjetividade)


3. Arte como forma (valorização de aspectos estéticos formais como equilíbrio, ritmo, harmonia, unidade)


4. Teoria da instituição (as pessoas do mundo da arte, por meio do argumento de autoridade devem determinar o que ela é; valorização do contexto)


5. Teoria da semelhança familiar (não podemos definir o que é arte, seu conceito não é único, na verdade isso prejudica a criação e interpretação da arte)


Como você pode perceber, há arte para todos os gostos e também para todos os bolsos, isso a torna uma excelente “moeda de troca” e falando em moeda, cada vez mais o mercado econômico está movimentando-a. Segundo a Money Times, o mercado de artes movimentou 64 Bilhões de dólares em 2020 e as previsões sugerem que isso melhore ainda mais. E não pense que só entra nesse mercado obras de arte tradicionais como Monalisa. Segundo o ArtNews, as vendas de arte ultracontemporânea (criadas por artistas nascidos a partir de 1975) cresceram 142% entre 2019 e 2021 em casas tradicionais de leilões, alcançando 86,7 milhões de dólares.


No Brasil, o relatório Latitude afirma que o mercado de artes foi um dos menos afetados pela pandemia, além disso, galerias brasileiras estão presentes nos maiores eventos de artes mundiais como o Art Basel, além de ser cada vez mais comum a abertura de filiais no exterior, o que mostra a valorização e reconhecimento do potencial artístico brasileiro, prova disso foi a recente venda de uma obra da Tarsila do Amaral por incríveis 57,5 milhões de reais. No cenário amazônico, temos artistas de renome com fama internacional, representados por grandes galerias e com obras em alguns dos acervos, coleções e eventos mais disputados e reconhecidos do mundo, exemplo disso é a participação do fotógrafo paraense Luiz Braga no ArtBasel Miami; do escultor Francelino Mesquita na BELA - Bienal Européia e Latino-Americana de Arte Contemporânea; da exposição “Tanto Mar” em Lisboa, que reuniu telas de Jorge Eiró, Ruma e Geraldo Teixeira; fotos de performance de Genison Oliveira e desenho e instalação de Marcone Moreira; dentre outros.

Longe de mim dar um veredicto a respeito do tema. Na verdade, meu objetivo é fazer você entender que, independentemente do seu conceito, a arte está presente na vida de todos, de diversas formas e intensidades. Mas infelizmente, poucos a percebem, valorizam, exploram e consomem adequadamente.


A arte tem o poder de refinar ambientes, despertar emoções, criar status, valorizar patrimônios, diversificar investimentos, educar, impactar, protestar, fazer companhia, iniciar relacionamentos, etc. Encontre um nobre objetivo e ela o ajudará a desempenhá-lo esplendorosamente bem. Nunca é tarde para começar.


Por Marcos Vinícius Rego, novo colunista do Belém Negócios.

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