Pesquisadores defendem que cada localidade precisa definir um conceito próprio de bioeconomia e lançam um estudo sobre a prática na Amazônia
A palavra bioeconomia tem se popularizado cada vez mais, principalmente entre os defensores de uma economia mais sustentável. Embora seja aplicável em diferentes partes do mundo, seu conceito pode variar de acordo com a maneira como as pessoas interagem com o meio ambiente.
O termo é originário da Finlândia, país que tem uma visão econômica verde avançada, assim como boa parte de seus vizinhos no Hemisfério Norte. Atualmente, a região apresenta um grande investimento tecnológico, focado principalmente em projetos de reflorestamento.
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Segundo Patrícia Pinho, diretora adjunta de pesquisa do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), o movimento, no entanto, tem pouca adesão no Brasil, e menos ainda na região amazônica, bioma com tantas paisagens e populações diversas.
Na tentativa de consolidar um conceito que se aplique às especificidades locais, Patrícia e outros pesquisadores do Ipam publicaram um estudo na revista científica Ecological Economics no qual propõem quatro princípios norteadores de uma bioeconomia para a Amazônia. A pesquisa foi repercutida primeiramente por Lílian Beraldo, do site Ecoa, de Brasília (DF).
Desmatamento zero, diversificação dos métodos de produção, fortalecimento de práticas milenares amazônidas e repartição equitativa de benefícios, na opinião dos pesquisadores, são as diretrizes necessárias para uma economia sustentável no Norte do Brasil.
Os estudiosos acreditam que a bioeconomia da Amazônia precisa garantir proteção ambiental, justiça social e modelos econômicos sustentáveis e prósperos para a região. A região possui um potencial único para desenvolver uma economia realmente sustentável.
"A ideia é tentar fomentar e fortalecer um desenvolvimento na Amazônia que pense nas pessoas que estão na Amazônia, que seja construído coletivamente, de forma participativa, e levando em consideração as complexidades territoriais e culturais de cada local", explica Olívia Zerbini, coautora do estudo.
Desmatamento Zero
Para uma bioeconomia que atenda os interesses da população da Amazônia, os pesquisadores acreditam na necessidade de conter a degradação florestal que vem, principalmente, de práticas ilegais, como o garimpo e a grilagem. Mas não só isso. Eles defendem, inclusive, o fim do desmatamento feito de forma legal.
"Não faz sentido ter perda de floresta em um momento histórico sem precedentes em que a gente enfrenta uma crise climática em que o mundo precisa plantar floresta. Então, globalmente, não faz sentido perder um recurso biológico, um ecossistema único como a Amazônia", destaca Patrícia.
Na avaliação dos pesquisadores, o desmatamento zero vai ajudar a garantir a integridade do ecossistema, que é o bioma mais biodiverso do mundo e tem um grande potencial econômico.
"Se garantirmos a integridade dessa biodiversidade, desses serviços ambientais, conseguimos ter uma maior segurança de que a gente vai conseguir também gerar renda ao redor disso", destaca Olívia.
Diversificação dos métodos de produção
Para os pesquisadores, a lógica a ser usada na Amazônia deve excluir a lavoura de grande escala. Na avaliação deles, a produção deve ser uma alternativa às commodities e não pode ter como base um único produto.
Mais do que ser alicerçada em produtos florestais, uma bioeconomia da região deve ser baseada em processos. Os pesquisadores criticam, por exemplo, o que eles chamam de "açaização da Amazônia", que seria, na avaliação deles, "uma forma perversa de bioeconomia", já que se utiliza de um produto típico da região, mas com um modo de produção em larga escala que foge das tradições locais.
"Com grandes cadeias como a do açaí, a gente tem a perda de florestas de várzea para plantação de um produto só por conta do boom que ele gerou. Essa bioeconomia de escala, de monoculturas, não é um interesse de uma bioeconomia tropical", avalia Patrícia.
Para diversificar os métodos produtivos, é necessário contar com o conhecimento tradicional e as técnicas ecológicas da população que já habita a floresta.
Fortalecimento de práticas milenares amazônidas
Com o intuito de garantir uma bioeconomia genuína, os pesquisadores defendem que é preciso levar em consideração as práticas socioeconômicas milenares das populações locais. Cada parte da floresta tem vocação para um tipo diferente de produção e, por isso, é preciso considerar as complexidades territoriais e culturais e pensar como elas conseguem gerar renda verde.
"É importante trabalhar com essas populações num processo participativo. Entender como eles podem, talvez, aumentar a produção da escala. Não é todo mundo que quer escalar seus produtos, que quer exportar. Às vezes as pessoas só querem ter o mínimo para sobreviver. O mais importante é conseguir garantir uma redução das desigualdades da pobreza na região.", afirma Olívia.
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